Crônicas Cariocas

  • Alegoria do pitaco

    Diria o maluco que cada um tem sua loucura. Uma das minhas é ler crítica literária. Mesmo quando espremido num cotidiano atribulado, um artigo de quatro ou cinco páginas sempre encontra uma brechinha entre canecas de café. E desde muito tenho essa mania. Outra louquice é inventar desafios relacionados à leitura. O último é ler os treze (ou quatorze?) volumes do compêndio intitulado Pontos de Vista, contendo cinquenta anos de críticas literárias do Wilson Martins. Provavelmente esse seja o trabalho sistemático mais longevo da área. Por si só, uma baita empreitada.

    O autor me chamou atenção desde a primeira leitura pela profunda fundamentação do seu argumento, sempre escrevendo com estilo singular e sem receio de magoar o escritor em questão. Pela análise do Wilson passaram as obras de todos (ou quase todos) os escritores que estudamos na escola e outros que agonizam em bibliotecas antigas. Há também textos sobre obras cujos escritores nunca ouvimos falar porque foram esquecidos ou subjugados sem jamais terem uma reedição. Inclusive perdi a conta de quantos autores conheci nessa campanha.

    Dizem que Moacyr Scliar andava com um recorte de jornal no bolso, pronto para mostrar às pessoas o elogio do temido crítico a um dos seus primeiros livros. Wilson tinha o respeito de leitores e escritores (por esses, vez ou outra, era evitado, talvez odiado). Imagino como seriam recebidos seus artigos no mundo atual, sobretudo se terminassem dessa forma: “Marcos Rey afirma ter escrito para livrar-se de um pesadelo, ‘apenas porque não sabia compor música ou pintar quadros’. Por que não tenta?”. De fato, não deixava pedra sobre pedra, nosso querido Wilson.

    Não lembro se li algo escrito por Marcos Rey; mas, ao me deparar com esse comentário, ao fim de um artigo detalhado, exemplificando em minúcias as características do texto e destacando as inconsistências, não sei se hoje compraria seus livros. Não digo que a minha opinião dependa da indicação do Wilson, mas também não nego que a anuência dele pese um bocado quando estou vagando nos sebos por aí.

    Quando soube, por outra leitura, que o Wilson havia tecido comentários acerca da obra Cogumelos de Outono, de Gladstone Osório Mársico, busquei rápido essa referência. Não me decepcionei, de todo. Na crítica, disse que Gladstone errava ao perder tanto tempo com obras satíricas, pois tinha talento para apresentar algo de maior envergadura à literatura brasileira. Um tanto dúbia a minha alegria: por um lado, reconhecia Gladstone como um bom escritor; por outro, rechaçava os romances satíricos de que tanto gosto. Enfim, anos e anos depois, Gladstone continua sendo um dos meus autores preferidos e Cogumelos, um dos meus romances preferidos. E também não é reeditado há décadas (alô, amigos editores).

    Nessa empreitada de treze livros (ou quatorze? Jamais encontrei esse último), perdurarei por seis ou sete anos e, para dizer a verdade, não tenho nenhuma pressa em terminá-la. Trata-se de um daqueles prazeres à conta-gotas para os quais não há muita explicação. Se é verdade que encontramos a felicidade (ou qualquer coisa parecida com ela) quando não queremos que algo acabe, talvez eu a tenha achado lendo crítica literária. Pois é, cada doido com sua doidera.

    O fato é que poucas alegrias se comparam à leitura de uma crítica elogiosa a um livro de que tenha gostado. Aconteceu na semana passada com A assunção de Salviano, do Antônio Callado. A exaltação do Wilson a um romance apreciado de antemão me serve como um afago, uma saudação afetuosa de reconhecimento, confirmando que a minha opinião vale alguma coisa e está correta (ainda que envolta a muitos poréns, como toda opinião literária correta). Por fim, mostra ao meu ego um tanto inflado como sou um bom leitor e transforma a leitura num regozijo intelectual, por assim dizer. E, para completar, me sinto como um aprendiz de trombadinha que arruma briga na rua, com o irmão mais velho à espreita, pronto para intervir, garantindo a impossibilidade da surra, do pontapé e da vergonha. Mas, voltando ao assunto das reedições, por que mesmo ninguém reeditou ainda as obras do Wilson Martins?

  • Rosa, verde e rosa

    Rosa. Apenas Rosa. Nascida e criada na Estação Primeira de Mangueira. Primeira estação do trem e do seu coração.

    Rosa ganhou esse nome por duas paixões do seu pai. O samba de Cartola e a Mangueira. Rosa nasceu em 1980, ano em que Cartola morreu e seu pai resolveu lhe prestar essa homenagem. Ele assobiava “As rosas não falam”, quando se lembrava da mulher, que havia lhe abandonado alguns anos após Rosa ter nascido. Dizem que sua mãe era uma mulher linda, sorridente, mas não tinha nascido para ser mãe. Depois de ter parido Rosa, ela estava sempre triste, pelos cantos, como se não gostasse mais de viver.

    Seu Reynaldo tentava de tudo. Fez até um canteiro de rosas para ela, inspirado por Cartola. Dizem que a letra de “As Rosa não falam” foi quase totalmente composta quando Cartola levou à Dona Zica, sua esposa, umas mudas de rosas que plantou no jardim. Dias depois, ao abrir a porta pela manhã, ela percebeu que muitos botões haviam desabrochado e ficou deslumbrada com tanta beleza e quantidade. Chamou seu amado e perguntou:

    – Cartola, venha aqui! Venha ver o jardim! Por que é que nasceu tanta rosa?

    E o sábio respondeu:

    – Não sei, Zica. As rosas não falam!

    Mas a mãe de Rosa parecia imune a qualquer beleza. Nada mais lhe interessava, lhe fazia sorrir, lhe animava. Sua última lembrança da mãe foi no desfile que consagrou a Mangueira, em 1984, na inauguração do Sambódromo. Quem puxava o samba era um tal Jamelão – puxava não, porque ele não gostava de ser chamado de puxador – um senhor mal-humorado com a voz de trovão, que assustou Rosa quando ela passou ao lado do carro de som. Ele parecia estar sempre bravo e a menina se agarrou ao pai com cara de choro, enquanto sua mãe se misturava ao mar verde e rosa da ala das passistas. Depois disso, ela nunca mais a viu. Nesse ano, aconteceu um dos feitos mais marcantes da história da escola: Depois de desfilar, a escola retornou pela Sapucaí, sendo aclamada pelo público. A comunidade toda ficou em festa, mas seu Reynaldo não conseguiu comemorar. Procurava sua amada em todos os cantos, parecia um louco a procura do nada. Só encontrava o vazio e se enfurecia gritando por ela.

    Mas será que alguém tinha perguntado para a sua mãe se era isso que ela queria? Mulher negra da favela, casou-se com o seu primeiro homem para sair de casa e da fúria do pai. Queria pôr fim ao ciclo de humilhação e violência que vivia com a mãe, que tinha um filho atrás do outro pelo simples motivo de que não apanhava enquanto estava grávida. Se tornou uma mulher fria, sem brilho. Paria como um bicho e fazia de tudo para engravidar novamente. O marido se gabava, enquanto ela só queria sobreviver.

    Nair era o contrário. Seu sorriso cativava a todos, seu brilho era natural. Mas precisava ser livre, desfilar, cantar seu amor pela vida. O casamento com Reynaldo ia muito bem até a notícia da gravidez. Apaixonados, nunca pensaram em evitar. Muito pelo contrário, Reynaldo sempre dissera que queria ter muitos filhos, um para cada ala da sua escola. Mas sua amada começou a se sentir como a mãe, presa pelo ventre, amarrada pela obrigação. Não falava sobre o bebê, não queria saber de pensar em nomes, não se importava se seria menino ou menina. Tinha pesadelos constantes e, por mais que Reynaldo lhe acalmasse e jamais tivera coragem de lhe erguer a mão, a barriga crescendo era muito mais um fardo do que um acalanto.

    Nesse dia em que ela sumiu na multidão, fazia 3 anos que ela não saia de casa. Depois de muita conversa de amigos e parentes, ela resolveu voltar para a sua escola. Seu Reynaldo imaginava que ela só precisava voltar a sorrir, voltar a brilhar. Como se todos os seus fantasmas fossem desaparecer na magia verde e rosa do Carnaval. Ela se aprontou com esmero especial. Vestiu-se como se fosse a última vez. Se despediu do marido e da filha com lágrimas nos olhos. Acharam que era a emoção. Mas era um adeus.

    Depois que a mãe de Rosa foi embora, Seu Reynaldo a criou do jeito que pode. Pedindo ajuda para a mãe e as irmãs que se revezavam enquanto ele trabalhava, fazendo bicos pela comunidade de pintor, eletricista e o que mais precisassem. Rosa cresceu cercada de amor, mas a falta da mãe parecia uma chaga aberta, um afago que nada conseguia substituir.

    Rosa foi se tornando uma bela moça e fazia vista pelas ladeiras da Mangueira. Mas enquanto todas as suas amigas sonhavam em desfilar na escola do coração, Rosa queria escrever o samba enredo. Queria cantar sua tristeza, colocar para fora a falta da mãe, as aflições do pai, o abraço que não encontrava parceria, o choro que só encontrava eco.

    Fazia versos como quem ama. Como quem padece. Mas não mostrava para ninguém, sabia que não tinha lugar no meio dos adultos, nem dos homens. Se deslumbrava quando seu pai entoava os clássicos da escola, imaginava novas rimas, corria para anotar suas ideias em um bloquinho cor de rosa estrategicamente guardado sob o seu travesseiro. Se escondia no barracão enquanto os homens bebiam e batucavam na mesa imaginando novas canções.

    Nas festas de família, todos gostavam de mostrar os seus talentos. Sua tia Ana cantava enquanto seu primo José tocava violão. A alegria era enredo fácil e as reuniões de família iam até o dia amanhecer. Era aí que o morro ficava mais bonito, com os tons de rosa inundando os becos e iluminando os corações.

    “Mangueira, teu cenário é uma beleza. Que a natureza criou…”

    Seu primo José era parte importante na vida de Rosa. Como um irmão mais velho, era ele quem a defendia dos outros meninos, fazia às vezes papel de pai quando seu Reynaldo viajava para fazer serviços em outras cidades e lhe dava sempre bons conselhos. Era mesmo um bom primo. Um dia, ao voltar da escola, deu de cara com ele deitado na sua cama com o bloquinho cor de rosa na mão. Ela deu um pulo e o arrancou da mão dele:

    O que você está fazendo aqui?

    Minha mãe mandou dar uma olhada em você, parece que seu pai vai voltar tarde. O que você escreve nesse caderno?

    Não interessa!

    Interessa sim. É lindo!

    Você acha mesmo?

    Acho sim. Para quem você escreve isso?

    Antes que José imaginasse que ela estava apaixonada por alguém, Rosa tratou de inventar algo. Ela não queria dizer da saudade da mãe, da tristeza do pai, mas também não queria fazer papel de boba dizendo que queria ser compositora de samba. Seu primo ia rir da sua cara.

    Fala, Rosa. Já sei, você está apaixonada!

    Claro que não! Só…escrevo.

    Pois eu acho que tem poesia aqui. Posso copiar algumas coisas? Vou hoje no barracão e acho que dá para fazer um samba.

    Os olhos de Rosa se iluminaram.

    Fazer um samba com as minhas letras?

    Claro. Mas, olha só. Melhor eu dizer que é meu. Você sabe, os coroas não iam aceitar uma menina na roda de samba.

    Pode fazer o que quiser. Será que eles vão gostar?

    Só podemos tentar.

    À noite, José foi se encontrar com os outros compositores já com um samba na ponta da língua.

    Vocês precisam escutar isso!

    E José foi, pouco a pouco, emendando frases, batucando aqui e acolá, falando mansinho…E as palavras foram se tornaram música e ganhando som. Seus companheiros de roda, já munidos com seus instrumentos, foram dedilhando acordes e cobrindo o silêncio. Era uma melodia triste, como todo samba deve ser.

    Rapaz, ou você está muito apaixonado ou sofrendo muito. O que, no fim, dá na mesma!

    Todos riram enquanto José não se aguentava:

    Gostaram mesmo?

    Falta um arranjo melhor, mas tem cheiro de sucesso!

    Rosa não tinha conseguido dormir. A todo momento esperava o retorno do primo que havia prometido lhe falar sobre o que acontecera no barracão. O pai, seu Reynaldo, abriu a porta da frente, cansado de mais um dia de labuta e Rosa estava lá de pé, achando que fosse José.

    O que você faz acordada, Rosa? Seu primo não lhe avisou que eu iria demorar?

    Sim, papai, mas não conseguia dormir. Estava preocupada com o senhor.

    Isso não era de todo mentira, mas Rosa queria mesmo era saber notícias do seu samba. Fingiu um bocejo, abraçou o pai e voltou para o quarto. Espiava a lua longe, se escondendo por nuvens finas que pareciam se desfazer com um sopro. De repente, um barulho na janela. Deu um pulo tão rápido que quase caiu da cama.

    Rosa…tá acordada?

    José, pelo amor de Deus! Como poderia dormir com tanta ansiedade no peito?

    Vou falar rápido para não acordar o seu pai. Eles adoraram a letra, vamos fazer os acordes e a música amanhã. Vai ser um sucesso! Agora vai dormir.

    Dormir? Como Rosa poderia dormir depois de uma notícia como aquela? Ela se revirou na cama até os primeiros raios de sol e não conseguia parar de sorrir e pensar e compor até na hora de fazer o café até chegar na escola e ainda depois. Tinha que dar um jeito de ir até o barracão naquela noite para ouvir – imaginem só! – o seu samba ser tocado, apreciado e amado pelos melhores músicos da escola. Tinha a sorte de ser sexta feira e não ter escola no dia seguinte. Seria mais fácil convencer o pai.

    O dia passou devagar, a tarde chegou preguiçosa e quando os últimos raios de sol inundaram o morro e todo o rosa que fazia a tristeza ir embora se dissipou, Rosa já estava pronta e faceira na espera do pai chegar para pedir autorização para ir ao barracão. Sorte das sortes, seu Reynaldo chegou cedo naquele dia e muito bem humorado, o que era novidade.

    Pai, que bom que chegou cedo. Preciso lhe pedir uma coisa.

    Onde você está pensando em ir tão arrumada assim? Não me diga que está namorando!

    Claro que não, pai! Só quero ir no barracão ver o meu primo tocar um samba novo.

    José voltou a compor? Essa eu quero ver. Podemos ir, mas tem certeza que não tem namorado por aí?

    Juro, papai!

    Esse comportamento da filha, ao mesmo tempo que deixava seu Reynaldo aliviado, também o deixava pensativo. Será que a menina tinha medo do amor?

    Os dois chegaram cedo no barracão e os músicos ia aparecendo aos poucos, vindos do trabalho, alguns ainda famintos, pois a vontade de chegar logo no local do samba era maior do que a de jantar em casa. Todos tinham um trabalho formal, pois viver de samba ainda não dava dinheiro. Mas eram tão apaixonados pelo que faziam, que talvez até se arriscassem.

    Uma figura diferente estava na roda naquele dia. Uma mulher sorridente, forte, com lenço colorido amarrado no cabelo. Seu pai correu para cumprimentá-la:

    Zica, quanta honra ter você aqui!

    Reynaldo, meu amigo…Como você está? E a pequena Rosa?

    Rosa não conseguia acreditar no que via. Era dona Zica, viúva de Cartola. E ainda sabia seu nome!

    De pequena ela não tem mais nada, Zica!

    Rosa foi se aproximando devagar como quem chega no fim de uma peregrinação. Como toda a sua vida se resumisse naquele momento.

    Mmmuiito pprazer, dona Zica. Sou muito sua fã!

    Reynaldo, sua filha já é uma mulher! Estamos ficando velhos! E ela sorriu, enquanto puxava Rosa para perto em um abraço com cheiro de peixe e cebola.

    Vieram para o meu vatapá? Ela era famosa pelo prato.

    Nem sabia, mas viemos também pelo samba novo do José.

    Samba novo? Essa eu quero ver.

    E no meio do preparativo para o vatapá, o barulho das latinhas de cerveja abrindo e os instrumentos se afinando, chegou José. Muito bem arrumado, penteado e perfumando, como um mestre sala à espera da sua porta bandeira.

    Caprichou, hein?

    Todos os homens fizeram questão de brincar com a aparência de José, pois era o único que havia tido o cuidado de ir em casa antes de chegar no barracão.

    Só pode estar mesmo apaixonado!

    Mas a farra durou pouco. Eles queriam era escutar o samba. Até Dona Zica saiu da cozinha e pediu para outra pessoa ficar de olho no vatapá. Rosa se sentou perto do primo, que com um aceno carinhoso, a chamou para mais perto.

    A música falava de perda, de amor, mas também de esperança. Rimava a vida com alegria e Rosa a cantava baixinho, com aquela segurança de compositora. Seu Reynaldo tentava segurar as lágrimas, pois não conseguia parar de pensar na sua amada Nair. O “Jorge da Cuíca” fingia tirar um cílio do olho esquerdo que teimava em não cair. Seu Jair, no violão, viu uma lágrima descer pelas cordas e quase desafinou. Na verdade, todos os homens tentavam segurar alguma emoção escondida – homem não chora, afinal – mas Dona Zica estava atenta aos lábios de Rosa. Ela cantou a música toda transbordando de sentimentos. Quando a última nota entoou e todos aplaudiram José, Dona Zica perguntou?

    Quem fez essa letra linda?

    Fui eu, Dona Zica. – Respondeu, cheio de orgulho, José.

    E Rosa?

    A menina, que estava ainda celebrando em silêncio o seu sucesso, foi tirada daquele torpor pelo seu nome dito daquela maneira tão certa.

    O que eu fiz, Dona Zica?

    Eu que te pergunto. O que você fez? Esse samba?

    Todos se entreolharam como se aquilo fosse uma brincadeira. Seu Reynaldo, quase envergonhado, correu para intervir.

    Imagina Dona Zica. Rosa é uma criança, onde ia arrumar imaginação para isso?

    Rosa continuava calada, sem saber onde era o seu lugar naquela situação. Mas José, consciente do talento da prima, disse:

    Foi Rosa que escreveu sim, Dona Zica. Eu só dei uma ajeitada, meus parceiros fizeram a melodia, musicamos… Mas a letra é de Rosa.

    Seu Reynaldo não sabia se abraçava a filha ou a colocava de castigo, Quanta ousadia escrever aquele samba. Mas quanta tristeza também na vida dessa menina, meu Deus!

    Os outros sambistas também não sabiam como lidar com aquela menina que, de repente, se mostrava uma grande compositora. A filha do Reynaldo, quem diria! Mas ainda era uma menina, no fim das contas.

    Parabéns Rosa. Você foi aprovada no mundo do samba! – Disse Dona Zica como para dar um fim àquela confusão de valores – É isso o que você que fazer?

    É sim, Dona Zica.

    Então tem a minha benção e de todos aqui. Concorda Reynaldo?

    Mas é claro que sim. Se é isso o que ela quer!

    Ninguém iria discordar de Dona Zica e nem mesmo José ficou chateado por ter a prima alçada quase ao estrelato do samba em uma noite. Ficou feliz em não precisar mentir mais e prometeu ajudar Rosa nas próximas composições.

    Sempre falta alguma coisa, né?

    Rosa sorriu como estivesse em um sonho. Mal sentia o seu corpo, parecia levitar por entre todos. A música recomeçou e Dona Zica pediu a vez. Queria homenagear Rosa, com o seu segundo intérprete favorito.

    Que Cartola não me ouça, onde ele estiver. Mas eu sempre fui apaixonada pelo Orlando Silva! – Todos riram e ela entoou:

    Tu és divina e graciosa
    Estátua majestosa
    Do amor, por Deus esculturada
    E formada com ardor.


    Da alma da mais linda flor
    De mais ativo olor
    Que na vida é preferida
    Pelo beija-flor.


    Se Deus me fora tão clemente
    Aqui neste ambiente
    De luz, formada numa tela
    Deslumbrante e bela…

  • #09 – EXPURGO

    hoje eu mordi
    um chumaço de
    papel higiênico
    para estancar
    (ou tentar conter)
    o sangramento
    da língua dilacerada:
    como um cadáver
    antecipado que devora
    o seu próprio sudário.

    Um Andarilho Dentro de Casa

  • Nada será como antes

    Olhei para o bolo de chocolate com aquela cobertura de brigadeiro escorrendo pelos cantos. Peguei um prato e já ia me servindo, quando fui assaltada por um pensamento aterrorizante — esse é o último pedaço. Uma sensação de finitude me invadiu; como liquidar essa fatia que ainda pode durar até amanhã? Não, não posso fazer isso, vou dividir para ela durar mais. E, assim, fui me satisfazendo com uma terça-parte da delícia, até que não restasse nada além de migalhas.

    Depois do último pedaço, pensei com o melado que ainda restava na boca: será que isso é sinal de demência? Gula? Ou, quem sabe, avareza?

    Demência, ao que tudo indica pelo próprio fato de estar aqui me questionando, certamente não é. Avareza? Não, nunca fui daquelas que reutilizam cinquenta vezes o mesmo envelope de papel. Muito menos do tipo que compra em excesso um produto em promoção no final da validade sem a menor precisão, pelo simples prazer de economizar.

    Muito menos gula, pois não me atiro nem sonho com doces, muito menos salivo de alegria frente a uma confeitaria. Mas deve haver uma explicação para não querer encarar o final dessa fatia de bolo, então tentei ir mais a fundo. Se não é por avareza, por gula, ou porque estou entrando num processo de demência senil, o que me moveu a um comportamento tão esdrúxulo?

    Passei em revista minhas atitudes em relação ao desapego, com rigorosa autocrítica. Não, nunca tive problemas em me descartar de coisas como roupas, sapatos, móveis, ou mesmo mudar de casa. Então por que motivo esse apego a um simples bolo de chocolate?

    Após vasculhar meus sentimentos, cheguei à conclusão de que comer de uma só vez a última fatia do bolo de chocolate teve, para mim, um significado emocional de deixar de sentir aquele prazer. Tudo bem que é muito simples fazer ou comprar outro bolo para repor, mas o risco é de que o próximo não esteja tão gostoso como esse.

    Isso pode ser estendido não só para o prazer sensorial, mas para muitos prazeres emocionais, como o último dia de uma viagem, o último capítulo de um seriado, a última festa da faculdade, a última gravidez, só para citar alguns deles. Creio que me apego a esse último momento pela consciência de que ele significa a ruptura a partir da qual nada será mais o mesmo.

    Muitas teorias foram escritas a esse respeito por psicólogos, analistas do comportamento humano, e até por escritores como o Tolteca Miguel Ruiz, no livro “Os cinco níveis de apego”.

    Em uma das passagens do livro, ele coloca: […] “Sei que estabeleci um apego a algo exterior quando o medo da mudança toma conta de mim”.

    A antevisão de um final, seja da vida terrena em si, ou de qualquer coisa a que nos apegamos, pode ser angustiante. Aprender a lidar com isso é uma sabedoria que tenho que adquirir, portanto, daqui para frente, seja do bolo ou da vida, vou comer minha fatia de uma só vez.

  • Anotações sobre rotina e/ou fim do mundo

    Existe um filme premiado em Cannes que conta, de forma incrivelmente poética, o fim do mundo. Sob a perspectiva de choque entre dois corpos celestes, sendo um, a Terra e ‘Melancolia’, o nome do outro, o evento é uma dança de aproximação e afastamento, de medos e alívios, de insanidade e lucidez, tudo acontecendo a uma velocidade intangível, em que nós mesmos nos aproximamos e nos afastamos internamente. Detemo-nos nas consequências, ao passo que o esplendor da bela e enorme visão no horizonte nos reconforta.

    A beleza, às vezes, pode ser devastadoramente melancólica. Perceber o belo pode nos tornar nostálgicos, artistas, ensandecidos. Raciocinar e fazer planos é uma das grandes consequências ruins de ser humano: sofremos ao nos dar conta de que existimos, de que temos um futuro (ou não, pela carga duramente certeira de finitude).

    Entre as problemáticas que fabricamos ao planejar, muitas vezes sem viver o presente, há seres iluminados que se contentam em viver sem postagens em redes sociais, sem tornarem-se rostos produzidos aos passos da moda e do mundo – e que muitas vezes são ‘borrados’ por leis de proteção à privacidade. A mulher que passeia com um carrinho de bebê a sua frente, transportando latinhas e outros recicláveis, traja um vestido rosa bebê com motivo de jogo de cartas.

    Passeia espalhafatosa e desapercebida pela manhã de comércio fechado do centro de uma cidade qualquer, o cenário que melhor se delinear em sua mente, agora. Ninguém sabe de onde vem e para onde vai. Sorri, mas, ao mesmo tempo, não é vista e nem vê ninguém.

    É segunda-feira; em outros tempos, a informação do dia seria dada pela impressão da data no jornal diário. A mulher do vestido de cartas, se quisesse tal informação, teria que:

    1. saber ler, ao menos os números;
    2. aguardar o descarte do periódico, pois certamente não teria moedas a desperdiçar com papéis intocados.

    Aqui, no tempo e na cidade presentes, ela não porta celular, tampouco parece se importar com o passar do tempo. Ela é o próprio tempo, destemido, que não se subemete a julgamentos nem caminha para trás.

    Assim como a melancolia do filme, a mulher passeia como se encenasse a clássica e conhecida ópera de Wagner, Tristão e Isolda. Um guerreiro, uma princesa, um mundo à beira do extermínio, uma mulher que não joga, mas veste-se com as cartas do destino, em cores, a primeira vista, inocentes. As andanças da mulher das cartas segue a frequência da dança cósmica, dedilhada tal qual uma profecia entre 1857 e 1859, tocado pela profundidade de um conto da Idade Média. Um filme recente. Uma mulher contemporânea, e não.

    Entre guerras, guerreiros, princesas, prisioneiros, fadas e pessoas anônimas, a liberdade e a ideia de enganação podem levar ao amor. Ou ao fim do mundo. Ou simplesmente, a um manhã de segunda-feira.

  • O NEVOEIRO

    Metáfora. Figura de Linguagem que consiste em comparar dois ou mais elementos de forma indireta.

    Conforme o dicionário, a metáfora nos presta este favor. Aliás, um grande favor! Sem a metáfora, a imagem do que falamos ou escrevemos não teria a mesma expressividade!

    Aqui, nestes rascunhos e esboços de um tempo, a metáfora nos serve como uma imagem de alerta, de reflexão e, por que não, de perplexidade! Como podemos ignorar o óbvio?

    Outro ponto importante a considerar antes do exemplo, é que fatalmente repetimos os mesmos erros ao longo da história!

    Elementos de comparação: nevoeiro e visão.

    NEVOEIRO: Quando a temperatura do ar cai até o ponto de saturação da umidade do ar, formam-se as chamadas gotículas de água em estado líquido que, de tão pequenas, ficam em suspensão, reduzindo a visibilidade!

    VISÃO: Um dos cinco sentidos. Por meio desse sentido, temos a capacidade de enxergar tudo à nossa volta.

    Remexendo os espaços e as gavetas do tempo, a história que se segue já foi contada por muitas gerações. A propósito, ela se repete indefinidamente… a despeito da inteligência e da sagacidade de algumas criaturas…

    Conta-se que há muitos anos, um grande nevoeiro tomou conta da cidade.

    Entretanto, o nevoeiro não veio abruptamente, mas aos poucos…

    Conta-se que as pessoas nem estranharam.

    Uma neblina pequena se formou em pontos isolados, o que não chamou a atenção de ninguém.

    Depois, outros pontos passaram a apresentar também uma fina e frágil neblina…

    O calor sempre foi uma grande reclamação e, para muitas pessoas, estava bom, o calor havia diminuído. Isso era bom! Afirmavam muitos!

    Depois, pontos e mais pontos da cidade foram sendo tomados pela mesma neblina. Até que a cidade inteira foi envolvida.

    Os carros, desde cedo, já saíam de suas casas com os faróis acesos. As pessoas saíam com casacos e se encolhiam. As luzes das ruas ficavam acesas por muito mais tempo.

    E assim foi que, quando o nevoeiro chegou, denso, forte, espesso, ninguém reclamou, ninguém se surpreendeu… todos estavam já acostumados com seus casacos e gorros e luzes e frio.

    O nevoeiro assumiu o cenário da cidade e, como se a própria cidade fosse, como um prédio, uma ponte ou uma rua, era já algo comum, banal, corriqueiro…

    Um dia, o nevoeiro tornou-se ainda mais denso… Voos cancelados. Viagens adiadas.

    O nevoeiro impedia a visão das pessoas. Elas?

    Elas continuaram seus afazeres, mesmo que se machucassem ou esbarrassem em alguém.

    E elas se batiam e se esbarravam e se cortavam até.

    Elas tropeçavam e caiam e se levantavam muitas e muitas vezes.

    E assim viviam.

    Simplesmente viviam, indiferentes às coisas…

  • Berlin

    Cada vez que assisto a uma tentativa de calar as vozes dissidentes me lembro de Berlin: foi lá que me deparei com as reais consequências de um regime político onde falta liberdade.

    Percebi que a política é problema de todos e que, de uma forma ou de outra, é preciso participar (o que pode ser algo pequeno como votar conscientemente ou fazer parte da associação de bairro).

    É importante defender com unhas e dentes a liberdade de expressão, desde que não se caia na armadilha de dar liberdade completa a quem quer tirar a liberdade dos outros. O assunto é polêmico, os limites são tênues, há paradoxos envolvidos. Já me horrorizei muito mais quando via um político contrariar hoje o que havia dito ontem. Pode ser oportunismo, mas reconheço que esse é o tipo de coisa que supera conflitos: se todos se mantiverem firmes em pontos de vista imutáveis acabaremos indo às vias de fato com frequência e com maiores prejuízos para os envolvidos. Se é voz do povo que os políticos não são confiáveis, deveria também ser dito que são necessários.

    Mas voltemos a Berlin, uma das minhas cidades preferidas.

    Na primeira vez que fui a Berlin o muro ainda existia. Como estrangeira tive permissão para visitar a zona oriental, proibida aos alemães ocidentais. A paranoia era completa e amigos me aconselharam a não levar comigo escritos que não fossem de fácil compreensão porque poderiam ser interpretados como mensagens cifradas. Mesmo duvidando segui a recomendação e pude constatar, pouco tempo depois, que eles tinham razão: no aeroporto de Moscou vi retirarem da mala de um turista objeto por objeto, com ênfase nos papéis, incluídos aí meros cartões postais ou folhas soltas com anotações de números de telefone.

    A ligação entre os dois lados de Berlin se fazia em um local chamado Checkpoint Charlie.

    Na zona ocidental, os edifícios eram encostados na fronteira, mas na oriental foi criada uma larga faixa de terra de ninguém, desértica para facilitar a visão dos guardas nas torres que vigiavam dia e noite quem tentasse fugir. Como se não bastasse, retiraram os moradores dos prédios no entorno do muro, que permaneciam vazios e abandonados.

    Próximo ao Checkpoint Charlie (do lado ocidental, é claro) havia um pequeno museu onde se podiam ver os mais diversos estratagemas usados pelas pessoas para fugir da zona oriental, alguns bem-sucedidos, outros não. O museu existe até hoje e, apesar de não ser grande nem bonito, é imperdível.

    Berlin era habitada dos dois lados pelo mesmo povo, mas vivendo em condições bem diferentes. Na zona comunista os museus se mostravam lindos e bem cuidados, no entanto aquelas ruas tristes e vazias, os edifícios residenciais mal conservados, as lojas com mercadorias pouco atraentes, de vitrines horrendas ou mesmo sem vitrine alguma, eram deprimentes. As pessoas não vivem só de cultura e ciência, as pessoas também gostam de se cercar do que é belo.

    Berlin oriental ficou com a parte mais importante da cidade e era considerada a joia do bloco comunista, o local onde os altos membros do partido gostavam de passar férias.

    Contudo era desolada e até comprar água mineral para uma turista sedenta requeria paciência. As ruas do ocidente, ao contrário, apesar das construções mais modestas, eram cheias de vida, havia música e artistas performáticos, cafés ao ar livre, gente passeando.

    Se Berlin me ensinou que o comunismo é falido, também me lembrou porque foi arrasada: o combate a uma ditadura de direita radical que, com seus discursos de ódio e glória patriótica, arrebatou o povo alemão.

    Quando voltei a Berlin, anos depois, a cidade estava recém reunificada, eufórica, vendendo pedaços do muro como lembrança. O Checkpoint Charlie e a zona de ninguém continuavam lá, mas agora eram passagens abertas, passava-se à vontade de um lado a outro. Os alemães ocidentais já tinham matado a curiosidade e pouco cruzavam a antiga fronteira por ali, porém os orientais faziam compras desenfreadamente no lado ocidental.

    Havia um movimento em massa de pessoas voltando a pé para o lado oriental carregadas de embrulhos grandes que pareciam ser eletrodomésticos e artigos para a casa.

    Os prédios próximos ao muro derrubado começavam a ser de novo habitados, mas permaneciam em estado precário. Berlin ocidental continuava uma festa, enquanto o lado oriental continuava sisudo. Os alemães estavam naquele momento em lua de mel uns com os outros, ainda não haviam começado as desavenças que se seguiram até que as duas Alemanhas se ajustassem.

    Voltando pela terceira vez encontrei Berlin parecendo um canteiro de obras, a maior concentração de gruas por metro quadrado que já vi. Tive imensa dificuldade de localizar o Checkpoint Charlie: o entorno estava irreconhecível, a zona de ninguém completamente modificada. O museu, antes facilmente detectado, passava completamente despercebido no meio das ruas. O progresso na integração das duas Alemanhas era visível embora houvesse muita discussão. Livre e democrática. Até pequenos detalhes, como qual design de bonequinhos prevaleceria nos semáforos luminosos da cidade, se o oriental ou o ocidental, estavam sendo debatidos.

    Recentemente revisitei Berlin. Floresceu, continua cumprindo sua vocação para a vanguarda. No local do muro foi construído um lindo memorial. Ficou para trás a época em que vários alemães, para espanto meu, se desculparam comigo (?!) pela guerra, mesmo alguns que nem eram nascidos quando ela começou, e em que muitos lamentavam os compatriotas atrás da cortina de ferro. Tomara que as novas gerações se lembrem de aprender com o passado. Lá e cá. O assunto é sério.

  • Entrevista exclusiva com Trump (II)

    Nosso portal publicou em 27 de novembro de 2020, com exclusividade, uma entrevista com o então presidente Trump que acabara de ser derrotado nas urnas por Joe Biden. Em vista da volta de Trump à presidência (e às manchetes), julgamos oportuno, como documento de valor histórico, republicar a entrevista que segue abaixo:

    Sérgio Sayeg – Pleased to meet you, Mr. Trump.

    Donald Trump Excuse me, I know you?

    Sérgio Sayeg – I´m a blogger from Brazil. Can you say a few words to the brazilian people?

    Trump – Você brasileiro?

    Sérgio Sayeg – O senhor fala minha língua!?

    Trump – Sure. Eu aprender brasileiro quando fazer curso on line de ‘marxismo cultural’ e ‘terraplanismo avançado’ com mestre Olavo de Carvalho. Amazing! Ele dizer eu ser popular in Brazil.

    Sérgio Sayeg – Sim, o senhor tem muitos admiradores entre os seguidores de Bolsonaro?

    Trump – Who?

    Sérgio Sayeg – Bolsonaro, brazilian president.

    Trump – Oh, yes, Bolzonero, um leal servant. Eu brincar ser um ‘TRUMPolim’ para carreira dele. Hahaha. Em 2022, depois ele perder eleiçon to Lula, falar para ele non se preocupar com tribunal de Haia por ele destruir Pantanal, matar yanomamis e não fazer nada para acabar pandemia. Eu arrumar Green Card para ele morar in América, longe Xandão. Dar para ele emprego de capataz em minha fazenda no Oklahoma. Para filho Edward que ter know-how em fry hambúrgueres, eu conseguir trabalho no Trump Tower Grill em New York como ‘chapeiro’. Ele sempre querer ser meu ‘chapa’ hahaha. By the way, Edward me pedir para financiar international rede de brazilian barbecue.

    Sérgio Sayeg – Churrascaria…

    Trump Right! Ele indicar como partner ex-minister Richard Salles que fazer frigorífico em Xingu para produzir baby beef for exportation. Ele expulsar selvagens Amazônia, tirar mato e colocar gado e soja. Eu também pensar em fazer in the jungle the largest campo de golfe of the world, o Tropical Trump Golf Club. Eu adotar prática social e ambiental: dar empregos seringueiros como gandulas e plantar muita grama verde.

    Sérgio Sayeg – E o muro do México, presidente?

    Trump – Presidente Obrador, my left fellow in Latin America, me convencer: ‘no more muros’. Minha vitória on Flórida provar que hispânico agora aliado. Eu resolver consentir chicanos ilegales trabalhar para famílias americanas que non poder pagar previdência para employees. Melhor que fazer muro in México, fazer de México quintal do Texas. Criar novo slogan: ‘MAKE AMERICA EVEN GREATER: ATTACH MÉXICO’.

    Sérgio Sayeg – Anexar o México aos States?

    Trump Why not? ‘ATTACH’ México is better than ‘ATTACK’ México. Hahaha. México, estado 51: ‘una buena idea’, hahaha.

    Sérgio Sayeg – E a eleição de Biden, presidente?

    Trump – É uma question para psychology.

    Sérgio Sayeg – Psicologia?

    Trump – Yes. Vitória de Biden só Fraude explica.

    Sérgio Sayeg – Mas ele teve mais votos?

    Trump – Eu presidente legítimo. Se contar votos de white men, eu ganhar.

    Sérgio Sayeg – E as mulheres não contam?

    Trump – Mulher ficar em casa, non entender nada política e ser contra armas e guerras. Negócio de mulher is FFF.

    Sérgio Sayeg – Força, foco & fé (force, focus & faith)?

    Trump – FILHOS, FOGÃO & FUCK. Hahaha.

    Sérgio Sayeg – E os negros? Eles também são americanos.

    Trump I don´t think so. Quando eu ser presidente again, eu exportar niggers para Canadá e Austrália. Mão-de-obra barata para trocar oil, carvon and fossile fuels para acelerar aquecimento global e enfurecer Greta e Greenpeace. Já ter até slogan: “VIDAS NEGRAS EXPORTAM”.

    Sérgio Sayeg – E a história do vírus chinês?

    Trump Bullshit! ‘Vírus chinês’ ser apenas fake news para engajar anticomunists internetters. Eu assinar tratado my great friend Xi Jinping: governo americano liberar 5G da Huawei e governo chinês abrir capital empresas chinesas na bolsa Nasdaq: Xing-Ling Holding Company. Produto baratinho com três meses garantia, sem nota fiscal. Chinese new comunism impulsionar american capitalism.

    Sérgio Sayeg – E Putin?

    Trump – Putin maior líder europeu desde Goebbels. Ele comandar hackers que invadir celulares com ataques contra that disgusting Hillary em 2016. That man saber resolver problemas. Quando aparecer opositor, ele injetar cianureto no vinho dele e resolver queston quickly, sem vestígios. Ele usar arma química também para liquidar muçulmanos na Chechênia e crianças sírias em Alepo. Terrific! Eu ter muito aprender com ex-agent of KGB.  

    Sérgio Sayeg – Uma palavra final para seus fãs no Brasil, presidente.

    Trump – Eu gostar Brazil, principalmente a capital, Rio de Janero. Eu combinar Bolzonero ajudar construir nova Cancun em Angra com dois big empreendimentos: ‘South America Trump Shore Resort’ e ‘Trump Carnival Casino’. Contratar nativos com sombreros e beautiful mulatas para dançar mambo, samba, bolero e chá-chá-chá. As brasileñas son calientes. Desde que perder Cuba, american tourists non ter lugar para gastar dólares. I’ll be there. Wait for me! Adiós, muchachos.

  • O hoje do ontem

    Aproveitei o final de ano e mandei estofar o sofá. Chegou ontem. Interessante o impacto que uma simples mudança causa na sequência aleatória dos dias. Aliás, a espera pela entrega do “novo”, por si só, me provocou alvoroço. Não sou capaz de imaginar o resultado final do serviço a partir do pedacinho de pano da amostra. Por sorte, deu certo.

    A novidade trouxe animação, beleza, vontade de decorar a sala com novos objetos. Valeu o custo. O velho estava surrado de uso, a espuma sem firmeza, o tecido soltando o alinhavo e as amarras da história. O desbotado teimava em gritar o que se foi. Perdeu a graça, o charme e, na tristeza do seu envelhecer, passou a incomodar.

    Agora, o sofá azul de céu noturno assume sua imponência vestido de novos tempos. Do seu posto de belo, encara a tevê como se ordenasse um brinde ao que virá. Dono de um vigor encantador, ele brilha, orgulhoso de si. A mesa de jantar, a de centro, a luminária velha de guerra, na timidez da falta de viço, parecem nutrir um amor platônico. Não sei se o sofá inveja a intimidade, a cumplicidade e a vivência dos objetos que aqui estão desde o início.

    Ele é sedutor, instigante, atraente, classudo. Porém, feito namorado novo, exige formalidades. Estamos no início, fase em que se exercita as pequenas falsidades próprias a toda conquista. Sorriso contido, pernas cruzadas, costas erguidas, almofada sobre a coxa. Eu e o poderoso prontos para o frescor da paixão. Acontece que felicidade não é produto de fácil consumo… sinto saudade do passado. Nele, eu me jogava sem medo. Acariciava seu rosto com a sola dos pés. Mesmo empoeirado de rotina, éramos íntimos. Não reclamava da minha falta de jeito ou do peso das minhas pernas em suas costas.

    Será que a belezura do momento desconfia do que foi vivido em outros panos? Será que sabe que o novo é tempo que passa?

  • Promessas e Cotidianos

    Ano novo anda de mãos dadas com promessas. Não fugi à regra, quando enumerei minha lista de boas intenções. Passada a euforia refleti sobre esse costume. Eu estou me enganando! Claro que sim, ora se bem me conheço, nenhum rol ou plano de ações vai mudar a minha forma de ver o mundo, de agir, de errar e acertar.

    Que alívio! Vamos então ao meu ponto de equilíbrio: escrever. Essa é a minha terapia, o meu exercício diário de conexão com o mundo, com a vida.

    Na apreciação do cotidiano, no fascínio pelo simples, pelas belezas da natureza, e das pessoas eu encontro o meu refúgio. Vejo, crio ou invento pequenos milagres ou grandes feitos no que ninguém mais viu. Me comovo e me surpreendo com novas e antigos costumes.

    Não é assim de estalo, que família e amigos, em rotinas ou viagens me entendem ou correspondem. E tudo bem!

    O comum, o rotineiro me encantam, mesmo em lugares onde estou só a passeio. O pequeno grupo de alunos que passa em frente ao hotel, os uniformes com emblemas em outro idioma, as frases que não entendo, a alegria, o riso.

    Ao sumirem na próxima esquina levam o meu olhar entre curioso e amoroso; nem por isso evito o sorriso maroto quando penso não ter nada a  ver com tarefas, almoços e problemas do dia seguinte. Sou espectadora apenas. E da minha lista de intenções, sou “grandinha” o suficiente para saber o que me faz bem, o modismo ou necessário. Então eu confesso:  só ao final do ano vou revê-la e se necessário adequar a rota!

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