UMA CRÔNICA PARA ANNE FRANK
Olá Anne!
Bem, eu imaginei diversas formas para começar esta crônica e, na verdade, creio que o melhor começo seja agradecer a sua resistência!
E eu começo com uma pergunta que você mesma faz: “…por que as pessoas não podem viver juntas em paz? Por que toda essa destruição?”
O seu diário fez toda a diferença pra mim! O seu diário fez diferença para milhares de pessoas! É um sucesso em todos os lugares do mundo! Acredito que não há um lugar que não conheça a sua história!
E, voltando às perguntas feitas, o ser humano, nas suas complexidades, frustrações e influências, age de maneira irracional, por vezes, busca a guerra…
Como você observou muito bem, “há uma necessidade destrutiva nas pessoas, a necessidade de demonstrar fúria, de assassinar e matar. E até que toda a humanidade, sem exceção, passe por uma metamorfose, as guerras continuarão a ser declaradas…”
Estou escrevendo esta crônica porque, infelizmente, mesmo passado tanto tempo da guerra que você viveu e conheceu, o mundo parece não aprender nunca. No tempo em que estou, bem distante da Europa de Hitler, ainda vivemos com guerras. Pior, os homens maus nunca desistem do poder. Os homens maus não deixam de existir…
Muitos homens maus já passaram desde então, no entanto, neste meu tempo de absurdos, há um homem sem sorriso que definitivamente assusta boa parte de nós. E, não, ele não é da Europa! Ele é o presidente dos Estados Unidos! O nome dele é Donald Trump.
O mais estranho, trágico, triste, enfim, são tantas as palavras que não consigo escolher apenas uma… O mais estranho é que esse homem parece ter aberto uma espécie de caixa de Pandora. Uma caixa do passado, com todos os fantasmas da Grande Guerra: autoritarismo, intolerância, perseguições, soberba e um olhar de superioridade que você enfrentou e conheceu muito bem!
Anne! Falo de você para as pessoas! Falo do seu diário e da importância de tudo o que você viveu! E eu fico com esperança quando vejo o brilho nos olhos de todos os que ouvem e se emocionam com a sua história.
Anne! Esta crônica não é um relato pessimista, mas uma forma de te dizer que é necessário resistir e acreditar nas pessoas, apesar do contrário! Olha que este mundo em que vivo parece virado de cabeça para baixo!
Temos muitas tecnologias neste tempo, contudo, elas não nos aproximaram, ao contrário, deixaram maiores as distâncias, modificaram as relações e estão roubando de cada um de nós, a cada dia, um pouco do que insistimos em chamar de humanidade!
Em muitos momentos, quando vejo que os erros do passado se repetem, me sinto anestesiado, confuso, desanimado, mas sei que não posso desanimar! Isso não seria justo com o seu diário, com a sua história ou com a história de tantas pessoas que passaram pelo que você passou.
Aprendi a resistir escrevendo. Alinhando as palavras, juntando sons, criando sentidos e costurando, em prosa ou em verso, o que importa dizer: a vida e as suas cores! A vida e as suas dores!
Anne, seu diário atravessou o tempo e chegou ao meu tempo e continua reverberando, atual e tocante, sincero e certeiro, simples, mas verdadeiro…
Obrigado por ter resistido!
Este cronista segue resistindo neste tempo de corações duros e verdades descartáveis…