Uma história de mistério
Ouve o ruído dentro da noite espessa e se levanta, salta da cama e faz um pedido para si. Não quer encontrar o que quer que seja. Não é nada, um barulho qualquer. É noite e o chão está frio, os pés, o corredor, as mãos… tudo solto no escuro.
O ruído é baço… não há… ou há ? O quê? O que foi isso? Por que escutar o que não interessa? O coração, aos pulos, impulsiona sangue às veias. Ouve o ruído que aumenta e acelera também como ele… só ele.
O que foi isso?
Ouve o ruído e caminha em passos lentos ou trêmulos ou débeis. Por que escutar o que não interessa? Um sono calmo e bom. A camisola é fria como o chão, as mãos e a noite. O corpo quer e não quer avançar no desconhecido.
Ouve o ruído mais forte e, num impulso, abre a janela e o vento fresco toma-lhe as pernas, a cintura, a espinha o pescoço… um grito.
Um gato malhado arranha a porta. Alívio. O corpo está relaxado como a rua que vê: nada, nada.
Deserta a rua, um pinheiro que balança, outras casas.
Fecha a janela e não ouve mais o gato malhado que arranha a porta e pede comida. Sobe para o quarto e desarma-se num sono puro. Da janela de cima, o vento entra como embaixo, a acariciar lhe os pés, a tomar-lhe a cintura com força.
Ouve o ruído novamente e novamente salta da cama , agora confiante, o chão está quente, morno. Num instante abre outra vez a janela e espanta o gato. Agora pode dormir.
Mas.
Ao ouvir pela terceira vez o barulho, o ruído, o som perturbador, ela não tem calma, corre para a cozinha e pega uma faca, avança para a porta de entrada e, ao abri-la, acerta um golpe no braço de um rapaz moreno, franzino e inocente.
Acorda suada com a janela aberta e a sirene da polícia a entrar-lhe nos ouvidos. A noite está calma. A televisão é o único ruído da casa, um comercial de alimentos para gatos: Flaky – a delícia para o seu gato!
Desesperada, desce para a sala, acende todas as luzes a abre a porta de entrada – não há nada.
O gato malhado a olha sem entender e ela fecha a janela para subir ao quarto e dormir. Não há mais barulho…
Tudo é sono.